JOSIMAR APRESENTOU EMENDAS COM ‘VALORES QUEBRADOS’ PARA FACILITAR RASTREIO POSTERIOR POR AGIOTA, APONTA PF.
EMENDAS

A Polícia Federal (PF) identificou que o deputado federal Josimar Maranhãozinho (PL-MA), investigado por suspeita de desvio de emendas parlamentares, teria apresentado indicações ao Ministério da Saúde durante o governo Jair Bolsonaro com valores específicos. O objetivo seria permitir que o agiota Josival Cavalcanti da Silva, conhecido como Pacovan, pudesse rastrear e cobrar os valores junto às prefeituras beneficiadas. Em uma das conversas obtidas pela PF, Josimar revelou que indicava “valores quebrados”, como R$ 1,048 milhão e R$ 4,123 milhões, para facilitar as cobranças.
Josimar e outros dois deputados do PL, Pastor Gil (MA) e Bosco Costa (SE), foram denunciados em agosto de 2024 pela Procuradoria-Geral da República (PGR) por corrupção passiva e organização criminosa. Segundo a denúncia, os parlamentares, sob a liderança de Josimar, destinaram recursos federais à prefeitura de São José do Ribamar (MA), em 2019, para que os valores fossem posteriormente recolhidos por Pacovan. O caso está sob a relatoria do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Cristiano Zanin, que determinou sua inclusão na pauta de julgamentos.
Pacovan, empresário do setor de combustíveis, ficou conhecido por conceder empréstimos a candidatos a prefeituras durante campanhas eleitorais, sem registro nas prestações de contas, o que caracteriza crime de caixa dois. Em entrevista ao “Leriado Podcast” em 2022, ele sugeriu que seus empréstimos tinham juros superiores a 50% ao ano e que confiscava bens em caso de inadimplência, embora negasse praticar agiotagem. Pacovan foi assassinado em junho de 2024, e o caso segue em investigação pela Polícia Civil do Maranhão.
Quitação de dívidas com recursos públicos
A investigação da PF revelou que Pacovan cobrava repasses de recursos públicos como forma de quitar supostas dívidas. Em dezembro de 2019, durante o primeiro ano de mandato de Josimar, mensagens de WhatsApp mostram que o agiota foi informado sobre três repasses do Ministério da Saúde destinados ao custeio de unidades municipais, totalizando R$ 6,6 milhões.
Embora os valores não fossem formalmente emendas parlamentares, as mensagens sugerem que Josimar direcionava as indicações de forma a serem identificadas como suas. Em janeiro de 2020, um mês após o empenho das verbas, Pacovan relatou ao deputado dificuldades em convencer a prefeitura de São José do Ribamar a repassar parte dos recursos, alegando interferência de um “outro lobista”, identificado como Ebenezer. Josimar reforçou que havia designado valores específicos para evitar esse tipo de problema.
“Foi votado com valores quebrados para não ter esse tipo de problema”, afirmou Josimar em uma das mensagens.
Nos diálogos interceptados, Josimar orientou Pastor Gil a destinar “1.048 para Ribamar” e instruiu Bosco Costa, parlamentar de outro estado, a auxiliar no repasse ao município. Anotações encontradas com investigados vincularam Bosco Costa à alocação de R$ 4,123 milhões, enquanto Josimar teria destinado R$ 1,5 milhão.
Procurada, a defesa de Josimar afirmou que não irá comentar o caso. Nos autos, alega que não há provas de que o deputado tenha direcionado emendas ao município nem participado de desvios.
Entretanto, em mensagens trocadas com Josimar, Pacovan expressou frustração com a demora na liberação dos valores pela prefeitura. Em uma das conversas, o agiota mencionou que esperava “R$ 1,6 milhão de devolução” e compartilhou contatos do prefeito e do secretário de Saúde, pedindo a Josimar que intermediasse a situação.
“Porque eu quero desmascarar esse cara que tá dizendo que é dele. Ele vai pegar uma bala na cara. Esse vagabundo. Eu fiquei ontem até meia-noite lá com o prefeito, no Ribamar”, disse Pacovan em um áudio enviado a Josimar, conforme os registros da PF.
Laços políticos e negócios entre Josimar e Pacovan
A relação entre Josimar e Pacovan ultrapassava as movimentações envolvendo recursos da saúde. Em uma entrevista concedida em 2022, Pacovan afirmou que Josimar era “gente boa” e que sempre o tratou bem, além de destacar sua proximidade com a irmã do deputado, Josinha Cunha (PL), então prefeita de Zé Doca.
Durante a gestão de Josinha, entre 2019 e 2020, o município assinou contratos de R$ 1,6 milhão com um dos postos de gasolina de Pacovan, o Posto Joyce I, localizado na BR-316, em um dos acessos a Zé Doca. O agiota foi executado nesse posto, com tiros pelas costas, em junho de 2024. A Polícia Civil investiga a hipótese de que o crime esteja relacionado a disputas financeiras com uma ex-funcionária do posto.
A influência da família de Josimar na política de Zé Doca permanece. Em 2024, sua sobrinha, Flavinha Cunha (PL), foi eleita prefeita do município, sucedendo sua tia Josinha Cunha. (O Globo)
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